Por Heitor Lamartine
Em
1964, a ascensão dos militares ao governo brasileiro alterou profundamente o
curso da história de nosso país. Seriam tempos em que, a democracia e o
desenvolvimento social dariam lugar a “ordem de segurança e o progresso”.
Durante os longos 21 anos de Ditadura Militar, os militares deram uma punhalada
no seio de nossa nação, que mantêm cicatrizes abertas até nossos dias.
Seu caráter devastador se alastrou
por cada recanto do Brasil, alcançando uma pequena cidade do interior
pernambucano. Dentre as inúmeras vítimas da Ditadura Militar encontra-se um
conterrâneo toritamense. José Manoel da Silva, conhecido por Zezinho de Manoel
da Santa, nascido em 02 de dezembro de 1940, filho do senhor Manoel José da
Silva e de Luiza Elvira da Silva, casado com Genivalda Melo da Silva. Serviu nas
fileiras da Marinha do Brasil, em fins da década de 50 até 1964, sendo excluído
da corporação por participar de mobilizações políticas organizadas por
marinheiros. Este caso está correlacionado ao “Massacre da Chácara São Bento”
em 1973, na cidade de Abreu e Lima, Pernambuco.
O cabo da Marinha, José Anselmo dos
Santos participante de movimentos dos marinheiros, teve seus direitos políticos
cassados e foi preso com o advento da Ditadura, considerado ativista de
esquerda. Conseguindo fugir, foi levado à Cuba para realizar um treinamento de
guerrilha. De volta ao Brasil, tornou-se integrante de uma das mais ativas
organizações revolucionárias, a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Porém,
preso em São Paulo, foi encaminhado ao Departamento de Ordem Políticas e Social
(DOPS) sob a jurisdição do delegado Sérgio Fleury, passando a espionar e
delatar pessoas ligadas a Vanguarda. Sua viagem ao Chile teve por intuito
espionar as atividades da vanguarda, da qual o cabo Anselmo se aproveitou para
incitar a reorganização da vanguarda em território brasileiro. Para tanto,
convocou seis figuras de seu círculo de conhecidos em Cuba e antigos
companheiros da força militar, dentre eles estava Zezinho.
Todavia, havia um plano arquitetado
pelo delegado Fleury e o cabo Anselmo para executar esse grupo. Sua
representação simbólica, marca o combate a qualquer tipo de movimento ou ação
que fosse enquadrada como esquerdista ou comunista, sinônimos de terrorismo
para o regime em voga. Em janeiro de 1973, inicia-se uma operação de “caça” aos
revolucionários, um a um foram capturados pelos agentes da polícia. A época,
Zezinho residia em Toritama e realizada práticas comerciais, vivendo
legalmente, mesmo assim foi preso e tomando rumo desconhecido. Até que decorreu
o massacre dos seis.
Durante certo tempo afirmou-se que,
houve um conflito entre os militares e os revolucionários, contudo, novos
depoimentos do agente policial Carlos Alberto Augusto apontam para a
manipulação do cenário do crime fazendo nos desacreditar na versão citada. Conforme
as informações levantadas em diversas fontes, Zezinho e os demais foram levados
para uma granja, que pertencia a vanguarda, onde foram torturados e mortos. Não
obstante, Genivalda afirma que após a execução do seu esposo, foi perseguida e
presa, vítima de tortura e estupro por agentes da repressão. Zezinho foi enterrado
como indigente, comum aos presos políticos, teria seus restos mortais
incinerados, mas sua esposa conseguiu retirar a ossada enterrando-a próximo de
uma árvore no Cemitério da Várzea no Recife. Seu corpo foi exumado em 1995,
sendo trazido para Toritama.
Este breve relato
biográfico nos faz refletir sobre a ação política dos toritamenses na
atualidade, evocando a necessidade de conscientização histórica, política e
social dos nossos concidadãos para efetivação da democracia e equidade social,
mediante o preço que
Referências e sites
Documentos
do IML-PE sobre José Manoel da Silva. Disponível em: http://www.documentosrevelados.com.br/repressao/forcas-armadas/documentos-do-iml-de-pernambuco-sobre-a-morte-de-jose-manoel-da-silva/
- Acesso em 17/03/2017.
Ficha
descritiva: José Manoel da Silva. Disponível em: http://cemdp.sdh.gov.br/modules/desaparecidos/acervo/ficha/cid/189
- Acesso em 17/03/2017.
Jornal
Tempo de luta. Órgão oficial de divulgação da Unidade de Mobilização Nacional
pela Anistia (UMNA). Ano III, maio. 1995.
Livro
detalha chacina na ditadura. Disponível em: http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/politica/noticia/2013/01/12/livro-detalha-chacina-na-ditadura-69785.php
- Acesso em 17/03/2017.
Novas
e surpreendentes revelações sobre a chacina da Granja de São Bento. Disponível
em: http://www.documentosrevelados.com.br/depoimentos-torturas-denuncias-ditadura/novas-e-surpreendentes-revelacoes-sobre-a-chacina-na-chacara-de-sao-bento/
- Acesso em 17/03/2017.
Outras fontes
Linha
Direta Justiça: Cabo Anselmo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=bmgalEka0qA
Retratação
política em Toritama-PE: A volta dos restos mortais de José Manoel da Silva.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=1gKlK_bJ1bg
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